domingo, 29 de janeiro de 2012

Um câncer chamado especulação imobiliária (vide Cracolândia e Pinheirinho)



O governo de São Paulo tem feito por merecer as alcunhas que recebeu nos blogs e redes sociais. A gestão de Geraldo Alckmin se mostra cada dia mais fascista e retrograda. Absurdo o tratamento dado aos viciados da cracolândia paulistana, relatos de violência desnecessária utilizada pelos policiais pipocam nas redes. O que é, nitidamente, um problema de saúde pública foi transformado em um caso de enfrentamento policial, infringindo mais sofrimento àquelas pessoas. O plano mirabolante consistia em privar os viciados da droga e do lugar onde a utilizavam forçando-os a procurar ajuda, o que consequentemente reduziria o consumo.

Inflamando ainda mais a situação, a operação se mostrou atabalhoada quando vários viciados não conseguiram se internar ao procurarem a tal ajuda anunciada. A cidade não contava com a infraestrutura necessária para receber os usuários, o que só me leva a concluir que não houve de fato preocupação em preparar clínicas de tratamento em quantidade o suficiente para a demanda. Ao que tudo indica, a medida tem cunho meramente higienista, ou seja, a intenção é “limpar” aquela região da cidade para valorizar os imóveis. Tudo em nome de um câncer chamado especulação imobiliária.

O massacre de Pinheirinho, comunidade onde moravam mais de seis mil pessoas, em São José dos Campos, foi outra ação equivocada de Alckmin e Cia. A tropa de choque foi enviada para restituir a propriedade a Naji Nahas, empresário que, segundo informações, deve milhões à prefeitura de São Paulo. Tanto Geraldo Alckmin quanto Eduardo Cury, respectivamente, governador de São Paulo e prefeito de São José dos Campos, são agora responsáveis por um dos episódios mais emblemáticos no que diz respeito à violação de direitos humanos em nossa história recente. Os relatos são assustadores e vão de espancamentos a óbitos, incluindo uma criança de 4 anos que teria falecido após ser atingida por uma bala de borracha no pescoço.

O episódio indescritível e inominável para mim, custou caro para a imagem política do governador e do prefeito, é o tipo de mancha difícil de esconder. Agora que o estrago foi feito, ambos anunciam a construção de casas populares para abrigar pessoas pobres da cidade, o que poderia ter sido feito antes e sem nenhuma intervenção militar.

Choca? Sim e muito, mas tão surpreendente quanto isso é notar que uma boa parcela da população apóia o que aconteceu lá. Não foram poucos os comentários que li na internet em que as pessoas diziam concordar com o que foi feito, tudo baseado na defesa da “propriedade privada”, com argumentos do tipo: “imagine se invadem a sua casa, você concordaria?”

O grau de individualismo e ignorância chega a ser tão extremo que o sujeito não consegue diferenciar um latifúndio que foi utilizado para uma função social, não entro aqui em discussões legais, de uma propriedade que de fato é a moradia de alguém. Muito menos se dá conta de que cerca de seis mil pessoas estão agora desabrigadas e com marcas profundas em seus históricos pessoais. Como se não bastasse a pobreza, esses cidadãos foram tratados como criminosos e, por mais que a reintegração de posse estivesse dentro da Lei, a ação truculenta e irresponsável não se justifica. Era uma obrigação do Estado estabelecer um canal de diálogo e encontrar uma solução pacífica. O Brasil reforçou aqui sua conhecida tradição de ojeriza aos movimentos sociais e tratamento violento para as camadas mais pobres. Repressão, porrada e cadeia para quem não se enquadra ou abaixa a cabeça. Histórias como a de Canudos, registrada no romance de Euclides da Cunha, parecem se repetir e é incrível o quanto a situação se mantém praticamente inalterada, não importa o quanto avancemos em outros aspectos.

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