sábado, 10 de janeiro de 2009

Um mundo em transição?



O título acima não é nenhuma tentativa de ironia ou coisa parecida. É realmente uma pergunta. Impossível deixar de notar algumas mudanças importantes, principalmente no campo político. Me refiro, entre outras coisas, à vitória do senador norte-americano, Barack Husseim Obama, recentemente alçado à condição de chefe de Estado da nação mais poderosa do mundo. Tudo bem, seria apenas mais um a ocupar a Casa Branca não fosse o fato de se tratar de um negro de ascendência queniana.


Fato estarrecedor, principalmente se levarmos em conta o fato de que há apenas 40 anos atrás, pouquíssimo tempo em termos históricos, os negros estadunidenses ainda lutavam por direitos básicos de cidadania, e apanhavam por isso. A eleição do senador democrata representa uma espécie de ruptura importante com alguns conceitos arcaicos e com uma história marcada pelo racismo. Isso obviamente não quer dizer que o racismo acabou, nem aqui nem lá, mas é um passo e tanto. Dizer que as coisas só pioram é tão mentiroso quanto afirmar o contrário. A história é feita de avanços e retrocessos.


Acho que fui feliz em muitos aspectos, principalmente por poder ter presenciado, em meu tempo, alguns fatos importantes da história mundial. Em 2003 quando o operário Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a presidência do Brasil, era algo igualmente grandioso. Pela primeira vez não eram os membros das oligarquias brasileiras que ocupavam o cargo. Em um país marcado por uma ditadura que durou décadas, e cujos efeitos repercutem até hoje, dominado desde sempre por uma elite que sempre governou para ela própria e cuja história política (não poderia ser diferente) fora construída de cima para baixo, a assensão de Lula ao poder era algo no mínimo inusitado.


Verdade que a questão da reforma agrária permanece onde sempre esteve e o fato de ter sido um governo de alianças com antigos inimigos políticos (como qualquer governo brasileiro será se não ocorrer uma reforma política) fez com que não tivessemos uma administração tão progressista.
Mas nem isso tira a importância histórica do fato e as conquistas, inéditas até então, conseguidas por este governo. Mesmo com as perseguições preconceituosas, onde ele era acusado de ser um homem pouco “culto” e, portanto, incapacitado para assumir tamanha responsabilidade, o governo conseguiu dar passos importantíssimos na área social, embora utilizasse boa parte da cartilha econômica do antecessor, Fernando Henrique Cardoso. Tivemos ainda a assensão de outros governos de esquerda na América Latina, como Hugo Chavez na Venezuela e do índio Cocalero, Juan Evo Moralez na Bolívia. Enfim, o mundo está em um processo de mutação só imaginável há décadas atrás em livros de ficção, e daqueles otimistas ainda.


Voltando ao senador Obama, agora presidente, é sem dúvida um marco histórico, que eu espero, num futuro próximo não seja mais motivo de tanta comemoração, porque aí os negros já terão conquistado seu lugar na sociedade em pé de igualdade e nada disso chamará a atenção (se bem que isso é pauta pra outra discussão). De qualquer forma, é importante salientar que a América continuará lutando por sua posição hegemônica no mundo. Independente de quem estiver no poder, democratas ou republicanos.
Claro que o cowboy texano, segundo da linhagem dos Bush a assumir a presidência, conseguiu ser mais desastroso do que a política de seu próprio país permitia, mas a relação entre o Tio Sam e o resto do mundo não deve mudar tanto assim. Obama representa uma ruptura óbvia, mas ainda assim é o representante dos Estados Unidos da América.

De qualquer forma há um sentimento de otimismo em todo o mundo por conta da eleição de Obama, o que fez com que 2008 tivesse um sabor de “final feliz” (mesmo que não para todos), pelo menos no que diz respeito aos rumos da política mundial. Se as expectativas serão frustradas ou não só o tempo dirá. O discurso pelo menos é menos conservador e retrógado que o do seu antecessor. O fato em si já é digno de nota justifica um certo otimismo, mesmo que o façamos com os “pés no chão”.

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